Um grupo de homens de vida humilde - os pintores de casa Joaquim Ambrósio, Antônio Pereira e César Nunes; o sapateiro Rafael Perrone; o motorista Anselmo Correia; o fundidor Alexandre Magnani, o macarroneiro Salvador Lopomo, o trabalhador braçal João da Silva e o alfaiate Antônio Nunes - decidiram fundar o seu próprio clube de futebol.
Assim, às 20h30m do dia 1° de setembro, à luz do lampião de gás, altura do número 34 que iluminava a da Avenida dos Imigrantes (atual José Paulino), no Bom Retiro, treze pessoas sacramentaram a fundação do Sport Corinthians Paulista, eles se reuniram e redigiram o primeiro estatuto do clube. Faltava apenas financiamento para o sonho se realizar. Foi aí que Miguel Bataglia entrou em cena. Bataglia era um requintado alfaiate; aceitou participar e foi oficialmente nomeado o primeiro presidente.
O clube já tomava uma cara, mas faltava o nome. As idéias passaram por Santos Dummont, Carlos Gomes e até Guarani, mas nenhuma delas foi escolhida. Foi então que Joaquim Ambrósio sugeriu homenagear o famoso time inglês que fazia uma excursão pelo país: o Corinthian Football Club. O clube que se tornaria o mais querido do Brasil já tinha nome. A torcida e a imprensa chamavam a equipe de Corinthian’s Team. Assim, a letra "s" foi acrescentada ao nome, e o clube ganhou o elegante nome Corinthians.
Corinthians
Foi a principal contratação da MSI, que trouxera para o clube ainda seu compatriota Sebastián "Sebá" Domínguez e o meia Carlos Alberto, destaque da equipe portuguesa do Porto que no ano anterior conquistara a Liga dos Campeões da UEFA, além do Mundial Interclubes. Posteriormente, para treinar o clube, viria ainda um novo compatriota, Daniel Passarella. A parceria também traria Roger, Nilmar, Gustavo Nery e um dos grandes amigos de Tévez, Javier Mascherano. A vida conjugal de Carlitos também voltou aos eixos, com ele retomando o relacionamento com a ex-noiva, que dera à luz a sua filha Florencia.
A identificação de Tévez com a torcida coritiana foi imediata, gerando um frenesi que chegou a ser comparado com ídolos como Sócrates,Neto e Marcelinho Carioca.[8] Mesmo com o time demorando a engrenar, sendo eliminado no Campeonato Paulista e na Copa do Brasil, além de obter resultados ruins no Campeonato Brasileiro - Passarella caiu após uma derrota de 0 x 5 no clássico contra o São Paulo, a mania em torno de Tévez só crescia entre os alvinegros.[8] Não demorou a roubar o lugar e o número 10 de Gil,[9] que acabaria negociado com o futebol japonês.
A disposição de Carlitos em campo, lutando pela bola sem fugir das divididas, encantava os torcedores.[8] Os mais entusiasmados não só adquiriam as camisas corintianas com o nome e número de Tévez (o caso de sete em cada dez camisas vendidas do clube[8]), mas também as da Seleção Argentina de Futebol, além de adotar o chapéu de pescador que o ídolo costumava usar fora dos gramados. Até uma chupeta alusiva à filha Florencia tornou-se item muito usado.[8]
Após tropeços nos clássicos contra São Paulo e Santos (o time de Robinho e Giovanni o vencera por 4 x 2 na Vila Belmiro), o Corinthians conseguiu a liderança do Brasileirão ao final do primeiro turno. Contra o outro rival, o Palmeiras, Tévez teve seu melhor desempenho em clássicos, vencendo um dos jogos e marcando o gol de empate no outro deixando o zagueiro Carlos Gamarra no chão.[10] A vingança contra o Santos veio com um implacável 7 x 1 no Pacaembu, com ele marcando três vezes.O quarto título brasileiro foi conquistado sob polêmica: no escândalo de manipulação de resultados que envolveu o árbitro Edílson Pereira de Carvalho, alguns jogos do Corinthians apitados por este foram remarcados, e o clube faturou pontos perdidos - incluindo os da derrota de 2 x 4 para o Santos. Outro árbitro, Márcio Rezende de Freitas, também geraria controvérsias no confronto direto entre os dois clubes que disputavam o título, Corinthians x Internacional, ao não marcar visível pênalti sobreTinga, que poderia dar a vitória aos colorados. A taça terminaria faturada com três pontos de diferença, sendo que os alvinegros haviam conseguido recuperar quatro nos jogos remarcados.
Alheio a tais fatores, Tévez sacramentou sua consagração. Marcou no total 20 gols, ficando em terceiro na artilharia (atrás de Romário, do Vasco da Gama, e de Róbson, do Paysandu), e por pouco não superando os 21 gols de Luizão, máximo artilheiro corintiano em uma única edição do torneio.[11]Foi eleito ainda o melhor jogador do campeonato, faturando a Bola de Ouro da Revista Placar.
Foi instantâneo (ganhar o coração dos corintianos). Eles logo se deram conta de que vim para dar o máximo, que não pensava em me poupar. E me bancaram até a morte. (...) Eu me identifiquei muito com os corintianos. É gente humilde, sofrida, de bairros pobres. Igualzinho aos torcedores do Boca. Fico encantado que me vejam como um.[12] Se o Corinthians não me quiser, eu não jogo mais no Brasil.[13] Virei torcedor do Corinthians. Quando eu parar (de jogar), se o Corinthians enfrentar o Boca, terei de torcer por um empate.[14]